Razão ...

RAZÃO ...


O conhecimento que recebemos, na maioria das vezes, não tem muita relação com a nossa história, no máximo tem relação com a nossa formação profissional.

Aprendemos a acumular conhecimentos, aplicar fórmulas, analisar teorias, repetir regras ...
Todos esses eventos têm relação direta com a nossa história pessoal, nossos sonhos, expectativas, projetos, relações sociais, frustrações, prazeres, inseguranças, dores emocionais e até crises existenciais.
Adquirir essas experiências e vivê-las a tal ponto de segurar as lágrimas para que não derramem, estar preso a pensamentos nunca revelados, ter temores não expressos, palavras não ditas, inseguranças comunicadas e reações psicológicas não decifradas, são àquelas em que aprendemos na escola da existência. É nessa escola que deixamos raízes, saudades e memórias infindáveis.
É vivendo com cada experiência, que aprendemos a lidar com ela.
Por todos esses motivos, a razão desse espaço é dividir aprendizagem, oportunizar leituras, e claro, me exercitar na escrita e na comunicação.

Seja muito bem vindo!


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ou amor. Ou sexo. Ou os dois.



Se tinha uma coisa que me deixava intrigada na questão do amor é: se o sexo é bom, se a companhia é boa, se vira e mexe você vê que a outra pessoa continua sozinha e não com você, se você insiste para que dê certo, dá todas as chances. Recua, avança. Se permite. Aí não aguenta dá um basta. Passa um tempo, volta a atender os insistentes telefonemas e então baixa a guarda e no final das contas você não tem ninguém, mas também não se acha livre e quando se vê (quando se vê!), já passou um tempão e você continua nesse iô-iô. O que fazer?

Uma amiga psicóloga da Martha Medeiros disse certa vez em um reunião de Lulus: " Eu, se fosse você não terminava. Às vezes ficamos mais presas a um amor quando ele termina do que quando nos mantemos na relação". Li essa frase e fiquei boquiaberta. Ao final do texto entendi que não adianta antecipar o término daquilo que não acabou. "Espere a relação chegar até a rapa, e aí sim". Pronto, agora porque eu escrevi e tenho a Marthinha como consultora, você vai [re]começar os telefonemas?

Guenta aí. Estou falando de artimanhas complexas de uma relação que pode ter amor e sexo. Ou , um e outro, tá? Então vamos organizar. O que está bom para você? Curtição? Momento? Beleza, se joga: deixa o bofe puxar seus cabelos, deixa a it girl amolecer seu gingado e faça o que Luis Fernando Veríssimo publicou: Dar é inevitável. Dê mesmo, dê sempre, dê muito [...].




Mas se você está querendo um amor, aí a condição é outra. É de entrega. Sua e do seu amor. E é a falta disso que explica as relações que não se sustentam, mesmo havendo química, sexo delícia e amor. A condição de entrega é "quando ambos jogam no mesmo time, apenas com estilos diferentes". Se dá ainda quando não há julgamentos tampouco quando um usa suas palavras contra você. Não que um sempre concorde, mas lhe é leal, sob qualquer circunstância. Não finge. Não mente. Não omite. Só ri se realmente achar graça e lhe diz nãos. Nãos que são de amor, que são de afeto e de cuidado. Amor que não tem que durar porque você foi inteiro. Não tem que. Mas pode. E se acaba, vira amizade, porque enquanto juntos, houve entrega. Nenhum sonegou a parte que lhe cabia.


"Condição de entrega é dar um triplo mortal pressentindo que há uma rede lá embaixo, mesmo que saibamos que não existe rede para o amor". Mas desejar que a presença, lhe seja suficiente.


E quando chegarmos nessa condição, a de entrega, poderemos dar [...] "muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor. Esse sim é o maior tesão, esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar".



Nínive agora entendeu tudo.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A pena da Ana que valeu

Deveria ter uns cinco anos quando mamãe me levou para dar uma volta na Praça da Liberdade em Belo Horizonte. Era ano de eleição e estava tendo comício. No intervalo colocaram um xiriguidum prá tocar e tá eu pititinha dançando. Acho que nunca tive modos para dançar; jeito sempre tive. Jeito e coragem. Então não é que eu estava dançando, devia mesmo era estar num requebra de um lado para outro e arrisco a dizer que com passinhos e coreografia. Com certeza ainda não conhecia a palavra exibida, mas nem precisava.

Não passou muito tempo e alguém do caminhão percebeu meu requebra-requebra assim, e pediu para a mamãe me deixar subir. Antes dela perguntar se eu queria, já estava com os bracinhos pro alto pro homem me pegar. Aí não teve prá mais ninguém. Tá eu dançando percorrendo todos os lados do caminhão. O protocolo era um showmício. E pelo visto eu era a protagonista da primeira parte.

Já tinha bastante tempo quando mamãe me pediu para descer. Eu dava um nega e ia pro outro lado do caminhão. De certo, uma hora, até Jó perderia a paciência, foi quando fui descida a força. O barraco que arrumei chorando em alto e bom som não fazia parte do protocolo. Mas convenhamos, não deixou de ser um show.

Além disso, anos depois fui convidada a desfilar em Uberaba. Tinha uns 11 anos. Minha cara não nega que exibição é comigo mesmo.

Em 1994 meu pai fez participou pela última vez da SIPAT na Fosfértil. Ele se superou como em todos os outros anos. Se apresentou como Michael Jackson e parodiou Thriller com direito a bailarinos. Eu, claro, era um deles. Foi um espetáculo. Gostaram tanto que dançamos na outra semana já que meu pai ganhou pela terceira vez consecutiva o 1º lugar. E lá estava eu, com 14 anos na ponta direita fazendo uma das coisas que mais amo na vida. Se não fosse uma reforma que teve aqui em casa, onde entrou muita chuva, eu provaria com fotos e vídeo. Perdemos muitos documentos de valor impagável. Esse foi um deles.

Essa semana tive o maior orgulho do ano. Ver minha melhor amiga dançar. Nos conhecemos há bastante tempo, mas convivemos durante cinco meses iniciais da amizade e logo me mudei para Vitória. Em seguida, para o Pará. Nunca perdemos o contato, mas todo esse período longe não calhou de assistí-la. Domingo matei minha curiosidade, agucei alguns sentidos e tornei outros mais belos. Não tinha como não arrepiar com toda a apresentação da Cia que ela dança, mas vê-la no palco foi uma emoção à parte. Primeiro porque de imediato me preocupei em parabenizá-la mecanicamente e depois porque ela me desarmou como lhe é peculiar fazer. Não é porque ela dança e dança de fato muito bem. É que eu não a conhecia nos palcos.


No dia a dia Ana é estabanada, fala com os braços e esbarra aonde passa. De certo cultiva uns roxos, porque vive me contando que esbarra na mesa de trabalho dos colegas derrubando pastas e em casa nos móveis. Apesar de ser muito delicada, é a cara dela esse atrapalhamento. Mas vê-la no palco, foi como ver um lado que eu não enxergava porque não sabia. Ela transitava entre o corpo de balet com leveza e sem derrubá-los e eu achava que isso não era possível além de uma leveza e flexibilidade impressionantes.




Ao final do espetáculo, aguardávamos ansiosos por ela. Ela nos abraçou, nos beijou e quando avistou sua mãe e perguntou: Mãe eu te amo, você gostou? Valeu a pena o esforço dos dias e das noites fora de casa?







Nínive reviu bem essas fotos e acha que não precisa responder.


*essas não são as fotos da sua última apresentação. Tentei a todo custo consegui-las para postá-las, mas não foi possível e eu não quis deixar para escrever para depois o que tinha que ser escrito no calor da emoção*

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ando tão ressentida ...

Adoro sair para comer fora, para beber e para bater papo. Eu falo muito. Tanto, que quando não dou conta de tudo, sento e escrevo. Nessas ocasiões permito-me às inutilidades e falo de cara séria, assuntos de duplo sentido e de cara séria, discuto o mundo e suas excentricidades. Outro dia uma tia querida do coração me escreveu: você é a própria reencarnação da fênix. Enchi o peito como uma e quase voei.

Nessas incursões noturnas, ouço sobre economia, vulcão em erupção, política e câmbio monetário. Ouço de Tereza Cristina de Insensato Coração ao laudo oficial da morte da Amy Whinehouse. Ouço e só ouço. Esses são assuntos dos quais não tenho me inteirado e se deixar agora só falo de turismo. Continuo lendo. Mas parei na metade o “A Cabana” e estou relendo pela décima vez “Para Francisco”. Admito: tem um quê de melancolia impregnada em mim.

O sinônimo de melancolia, consultado rapidamente no dicionário do Word, é depressão, desânimo, fossa, nostalgia, tristeza. Que bom que tem a palavra nostalgia. Fossa me deixaria deprê demais. Poderia até ficar ressentida.

Sabe o que é ressentimento? Até o feriado achei que era mágoa. No dicionário aqui não apareceu nenhum sinônimo e eu não acho nem por reza brava o dicionário aqui de casa. Não precisa. Se eu separar a palavra, vou ter sua tradução.

Sentir novamente, não é necessariamente magoar-se. Mas pode ser nostalgia, que pode nos deixar triste e até na fossa. Mas também pode nos alegrar, nos inspirar. Sinta comigo: o tanto que é bom lembrar a noite anterior com seu amor e sentir um frio na barriga. O tanto que é bom ouvir a melhor amiga contando da sua bizarrice alcoólica e rir. O tanto que é bom lembrar o dia da sua colação de grau. O tanto que é bom tomar sorvete depois do almoço. O tanto que é bom abrir a boca e dizer o que sente. Francamente. Educadamente.

Suspirei melancolicamente agora. Mas não foi de tristeza. Foi de ressentimento.

“Lembro dessa burrice bonita de que é feita a última esperança. Lembro de insistir em não acreditar no que meus olhos gritavam para eu ver [...] lembro de estar cercada de uma verdade [...] atrás de mim, uma despedida que não foi. E acima da minha cabeça, um céu azul ensolarado, iluminado de realidade”.
Cristiana Guerra.

Estou assim porque estou com saudades. Porque não consigo chorar e porque não vou mais ouvir a voz dela e nem chamá-la mais de tia. A minha tia. A Tia Célia.

"[...] lembrei de tudo que vivemos juntos, desde que a conheci com 4 anos, você mais morava na minha casa do que na sua, aquela menina cresceu, estudou e foi embora para longe [...] no coração eu não esquecia você, hoje te vejo e tenho todas as lembranças do passado que fomos muito felizes, nossa família e a sua e vocês todos pequenos [...] tenho tanto amor em você, como aos meus próprios filhos [...] um beijo e um forte abraço, tia Célia.
Trechos de uma carta que a tia Célia me escreveu em 31/07/2010".





30/10/1949-24/10/2011


Falaram para Nínive que saudade é o amor que ficou. Ressentimento também.