Uma vez, há uns anos atrás, durante um período, tive que tomar uma medicação forte, daí que acho que ela queimou uns neurônios, ou desativou uma boa parte.
Na teoria é assim: faço uma organização mental para alinhar horário, com afazeres. Organizo tudo antes de começar e por pouca coisa o ‘trem’ não anda se não estiver alinhado. No dicionário isso se chama sistematizar.
(Adendo: ao contrário do que culturalmente utilizamos a expressão fulano é sistemático para dizer que ele é na dele, cheio de nove horas, ou ainda uma pessoa difícil, sistemático é a pessoa que exerce seu trabalho por sistemas e isso cabe também em lazer).
Na prática vivo brigando comigo mesma: Nínive, nove horas poder ser nove e quinze, nove e vinte,não precisa achar que o relógio da pessoa está com o fuso horário de Zimbabue. Nínive, se seu computador não liga, pega outro, abra os arquivos que der e trabalhe da melhor forma possível. Nínive, se sua amiga emperrou prá sair, ao invés de ligar e xingar a mãe dela, pega o carro e vai buscá-la. O imprevisto sobrevém a tudo e a todos.
Meu problema é o combinar. Serviria para morar naquela época em que palavra valia ouro. Sempre termino as frases com o meu indefectível: combinado!. Não sei desfazer trato, abrir mão das pessoas e chegar atrasada. E se a outra parte faz isso, é como se ela me amarrasse e me colocasse de cabeça para baixo dentro de um tanque cheio d´água. Drama é meu forte também.
Então, como eu passei da fase de dar xilique com a banda Calypso de fundo, comprei nas Organizações Tabajaras o MODO OFF. Paguei a vista. Ele serve para tudo e esse tudo é tudo mes-mo.
Acho que quando meus miolos vão entrar em pane, para se protegerem, eles se desligam e aí entra a Dori. Pode falar, pode mandar ir, esperar, voltar, ficar calado, tudo eu acolho em silêncio, com os olhos fixos na pessoa e com um balançar de cabeça como se estivesse assentindo. Se me perguntar se entendi: balanço a cabeça em sinal afirmativo, mas se me perguntam o que entendi, saiu como um ‘como?’ expressão que delata meu avoamento.
Pessoas próximas sacam na hora e quando não danam, riem e emendam: continue a nadar, continue a nadar. No trabalho uso a meu favor: pode tocar o telefone, o rádio e me chamar no MSN que o poder de concentração é tão grande que não me atrapalho com nenhum desses e vou atendendo e respondendo um a um, sem pressa ou agonia. Na vida social tem que me vigiar. Sou companhia de mim mesma fácil. Andar de carro, muito barulho, silêncio absoluto, tomar sol, caminhar, ouvir música e otras cositas más, só dá eu. Pensa em um egocentrismo. Agora dobra. Chego a ter dificuldade para ouvir, motivo pelo qual prefiro legenda.

No mais sou normal. De longe. Na verdade, a distância de um beiço de pulga como diz Giselle e por ora cantarolo a frase de uma música que achei a melhor do ano: tá a fim de um romance, compra um livro, se quer felicidade vem me ver de novo.
Modo off ligado eti momenti.