Agora, o momento é de profunda tristeza e do olhar para trás:
a última vez que viajamos, que nos abraçamos, que rimos juntos, que almoçamos,
que fizemos amor. Aquele quase que se não fosse a intersecção, não havia o hoje
com promessas como “eu daria tudo para ter de volta”. É esse quase, que vai te
arrasar e te levar as lágrimas.
Por algum tempo.
O dia amanhece preguiçoso e só. Se não fosse o balbuciar do
quarto ao lado e o riso com baba, seu dia seria mais enuviado. E é por esses
risinhos fora de hora e de um som cantante, que você troca o choro por um riso
e um bom dia, daqueles de bom mesmo. Porque o melhor está nesse momento na sua
frente, te pedindo com os olhos para ficar. E que olhos.
Seu dia deve ser cheio, mas precisa estar lotado. Volte a
dançar. Bailarina não chora de dor. Nem na ponta do pé. De tristeza pode chorar;
na sapatilha, com jaleco, de pijama. Lembranças são heranças da vida e legitima
um passado recente que lateja e faz jus aos lacrimejos. Foi bonito demais, num
foi?
Aproveita, porque daqui mais um pouco você vai ficar com
raiva e vai atacar quem estiver por perto. Eu mesma vou dar cambré para não pegar em mim, mas depois
volto a posição inicial da dança, porque isso também vai passar. Nesse momento,
você vai dar os primeiros passos básicos de uma dança solo e vai ver que é uma
apresentação bonita também. Que sem a condução obrigatória do cavalheiro, você poderá
girar sozinha. Para um lado e para o outro.
Esse exercício novo, que parece complicado, é porque nos
acostumamos com. Agora vai ter que acostumar sem. Sair da zona de conforto não
é fácil. Ainda bem! Se fosse, ele não seria fundo. Todo fundo do poço tem
molas, mas você precisa ir lá, para depois alçar seu vôo mais alto, mais
elegante. Como os que você fazia no palco.
A Nina, meu dodoizinho teve que amputar a pata, você sabe. Foi
a decisão mais rápida que tomei. Autorizei de imediato. Com a pata quebrada,
sem utilidade, estava comprometendo sua qualidade de vida. Depois da cirurgia,
a bichinha virou outra. Quando a
vi sem o membro, o impacto foi grande, chorei e a abracei ainda semi
anestesiada. Mas ó, até os animais tem o direito de ser felizes. Ela não
estava.
Você estava?
Sua Florzinha vai te lembrar todos os dias que alguém passou
por sua vida e te fez feliz enquanto deu conta. Quando não deu, saiu de cena. Por
mais que isso te doa, aceite que também foi uma atitude de coragem que muitos
não fazem. Não sofra pelo futuro. Ele está aí todo enorme na sua frente. Lembre
do passado como algo sublime e guarde só o que for bom para você.
Foi lhe dada a chance da alegria e do riso fácil como dos
tempos de escola igual vi outro dia uma foto sua do Corina com o cabelo
modi-pluft.
Hoje você não vai conseguir pensar assim e eu entendo. Guarde
esse texto visionando um futuro melhor do que tudo que já lhe aconteceu. Todos somos
dignos da felicidade, mas cada um só tem aquilo que merece.
E você mereçe!
Estamos todos aqui em casa chorando por e com você.