Razão ...

RAZÃO ...


O conhecimento que recebemos, na maioria das vezes, não tem muita relação com a nossa história, no máximo tem relação com a nossa formação profissional.

Aprendemos a acumular conhecimentos, aplicar fórmulas, analisar teorias, repetir regras ...
Todos esses eventos têm relação direta com a nossa história pessoal, nossos sonhos, expectativas, projetos, relações sociais, frustrações, prazeres, inseguranças, dores emocionais e até crises existenciais.
Adquirir essas experiências e vivê-las a tal ponto de segurar as lágrimas para que não derramem, estar preso a pensamentos nunca revelados, ter temores não expressos, palavras não ditas, inseguranças comunicadas e reações psicológicas não decifradas, são àquelas em que aprendemos na escola da existência. É nessa escola que deixamos raízes, saudades e memórias infindáveis.
É vivendo com cada experiência, que aprendemos a lidar com ela.
Por todos esses motivos, a razão desse espaço é dividir aprendizagem, oportunizar leituras, e claro, me exercitar na escrita e na comunicação.

Seja muito bem vindo!


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Pela máxima de sorte e pelo mínimo de respeito


Toda vez que vamos a Ituverava é uma alegria que não cabe no sorriso largo cheio de dentes. Como não somos mais aprendizes de viajantes, levamos tudo, praticamente todo o nosso guarda-roupa e paramos de vez de ficar sem o que vestir já que vamos para ficar um dia e ficamos dois. Hotel a gente quase não paga mais. Tem uma árvore ótima em frente ao hotel Domus que encostamos enquanto os taxistas nos vigiam. Os transeuntes nem param mais para olhar as duas descaídas de maquiagem black, meia fina rasgada (da Giselle, claro) e o pescoço melando de suor. De certo só olham de soslaio e pensam: as duas de novo!

Tudo tem sido motivo de alegria. Mesmo quando a viagem não sai tão legal o quanto programamos...'tá nós lá de novo.

Até que ....

.... no último final de semana mudamos radical e propositalmente nossos planos de ir a um show na cidade para nos encontrarmos com o povo em um sítio há 22 km de Ituverava onde fomos muito bem recebidas. Passamos a noite toda. Diverti-me o quanto pude, até onde deu, mas nem tudo foram flores. Dá nada não. Cansada, tirei as lentes que estavam irritando meus olhos e capotei no banco de trás do carro. Acordei com a Giselle dizendo que iríamos dormir na cidade e que os meninos estavam voltando e iríamos segui-los.

Ela tinha bebido até e estava de lente, eu tinha bebido quase nada e não estava. Nesse caso, ela foi dirigindo. Tudo bem que ela não tirava o carro do lugar e os meninos tiveram que dar uma mão empurrando e fazendo-a andar até quase a estrada, mas toda a graça acabou por aí. Daí pra frente custamos a acompanhá-los que estavam acelerados e não nos ouvia buzinar. Tivemos que parar, pois o vidro do carro estava embaçando. Custamos a ver que era por dentro, mas a essa altura os tínhamos perdido de vista. Assim que ajustamos o vidro, aceleramos, buzinamos, mas veio uma curva e os perdemos de vez.

Não sabemos se passamos reto ou se fizemos uma curva. Era madrugada e com o horário de verão, o dia demorou a amanhecer. Entramos em todas as vias que nos pareciam familiares e tentamos sair. Não deu.

Quando da ida fomos instruídas a chegar em um determinado quilômetro parar e ligar antes de entrar na estrada de terra. “O sítio é meio complicado de chegar e pode parecer que se perderam, mas fiquem tranqüilas que sempre verão placas indicativas e ó, o celular não pega a partir desse ponto”. “Beleza - respondemos - se em meia hora a gente não chegar nos socorre”. Então no retorno achamos que veríamos placas ou pelo menos as que vimos na ida, para tentar ir ao contrário. Só víamos cana, cana, cana e um breu horroroso.


Há essa altura a Giselle sarou e de certo passei a enxergar, porque com o dia amanhecendo e a gasolina acabando junto com a bateria do celular a 13%, tivemos que começar a pensar no que fazer. Eu estava em pânico e indignada com a falta de humanidade. Não conseguia entender porque fizeram isso conosco. Ainda não consigo.

O dia amanheceu, eu estava com sede, com dor de barriga, com calor, com vontade de chorar e fazendo conta de que seria dada nossa falta só na segunda-feira. Olhei em volta e vi um bombom, meus óculos de sol, e lembrei que tinha filtro solar na bolsa. Pensei: queimadas não vamos ficar, nem com sede e de certo vou beber xixi, da Giselle, porque ela bebeu a noite toda – eu nem isso!

Dá-lhe canavial minha gente até que o celular da Gi tocou. Era um deles, perguntando onde estávamos.

- Adivinha? Uma chance! No canavial, acredita?
- Pega a estrada que tiver chão batido e vem no rumo dos postes.
- Estamos em um cruzamento com seis entradas de terra de chão batido. Qual você quer que eu entre?
- Então pega o lado dos postes.
- Não tem poste nenhum, só cana, ela está alta, não estamos vendo nada.
- Gi, me escuta, pega a estrada de chão batido.
- Já te falei que estou em um cruzamento com seis entradas.
- Vem para o rumo dos postes.
- Enfezada ela esbravejou: vocês perderam a gente, não esperaram, fiquei igual uma louca buzinando. Vocês voltam e acham a gente! Não quero saber, voltam e acham a gente!
- Pega a estrada de terra de chão batido e vem para no rumo dos postes.
- Tu tu tu tu tu ...

Terrível né? Com uma conversa prolixa dessa tem que amarrar no tronco, arrancar a roupa e bater de pau fincado de prego.

Ponteiro da gasolina descendo e celular 5%. Hora de agir ou vamos beber xixi mesmo!

Anotei dois números de celular com batom na minha coxa caso conseguíssemos um telefone ou se alguém nos encontrasse. Passamos a observar rastro de pneu recente e ele nos deu em uma fazenda. Entramos e achamos que andamos muito, voltamos e paramos. Nesse momento nos demos conta que tínhamos saído do labirinto, a cana agora estava só de um lado e com cerca e do outro lado, um descampado grande e bonito. Mas nada de poste. Seguimos rente a cerca e andamos um bocado. Avistamos um tanque de peixe, outras fazendas e ahhh asfalto. O graças a Deus saiu sem som, mas o do carro foi até aumentado. Colocamos os óculos de sol e relaxamos.


A adrenalina baixou e com ele o sono. Apaguei. Giselle também; pescou várias vezes, por pouco não deu conta de chegar, achamos que estávamos em uma cidade, mas estávamos em outra. No final, foram uns 40 Km perdidas e chegamos no por volta das 08h30. A bichinha desmontou. Eu fui tomar banho, tirar maquiagem e tentar relaxar. Não deu. Fiquei velando o sono dela e matutando o que faz um ser humano fazer isso com o próximo.

Nesse dia, não pudemos contar com os meninos. Só com a sorte e é graças a ela que vos escrevo.

P.S.: menos dois amigos no Facebook
P.S.: Nínive já acalmou
P.S.: Giselle, te pego essa semana, me aguarde!

Um comentário:

Agradeço de coração a você que me lê e que expressa em palavras sua demonstração de afeto e carinho. É um prazer receber a sua visita. Muah!