- Dança de salão! – gritaram no camarim.
Olhei para a Érika, apertei sua mão e falamos ‘merda’ uma prá outra.
Já posicionados para entrar, na lateral do palco, comecei a respirar fundo e a reaquecer as pernas. Minhas mãos estavam geladas tais quais estão agora só de relembrar.
Ao chegar ao Teatro, sozinha, pensei que há 17 anos não me apresentava e que apesar de amar a dança, não tinha pensado que fazendo aula, poderia me apresentar em tão pouco tempo.
Tive dificuldade em entender a palavra disciplina e por vezes palpitava errado. Até que meu professor com muito jeito, disse que eu deveria apenas executar os movimentos que ele me pedia. E que eu deveria confiar nele.
A partir de um determinado período passei a dançar e a ensaiar todos os dias da semana e dançaria bolero e tango.
Tango?
Tango.
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Camarim |
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roxos |
Eu ainda tinha 3 minutos para respirar, jogar um lenço no chão prá
dar um desmaio e reaquecer as pernas. Pelo tempo esgotado, não deu para
repassar mentalmente a coreografia. As luzes se apagaram, colocaram as nossas
cadeiras de frente para o palco e eu tive que entrar.
(Acredita que estou com vontade de chorar. Aném)
No início da música, éramos Érika e eu dançando sozinhas. Em seguida,
numa pose sentadas na cadeira, vinham os cavalheiros Ivanilson e Renato desde o
fundo, dançando, até nos tomarem pelas mãos e então dançarmos os quatro, em
pares.
Levou vários segundos para meu coração parar de bater na boca, mas
a condução firme do meu partner ajudou-me a executar responsavelmente a parte
que me cabia. Fomos muito aplaudidos, mas não dava tempo de olhar a plateia. Tínhamos
uns 3 minutos para correr para o fundo do palco, trocar de roupa e voltar para dançar
o bolero.
Na cochia ninguém deve ter vergonha de peito e bunda aparecer. Até
porque não dá tempo de tampar o peito, sentir vergonha e trocar de roupa em
menos de 3 minutos. Então vai de bundalelê mesmo, gente!
Bolero. Ah que alívio dançar a segunda música. Não tem mais
nervosismo. Exceto pelo fato de que no meio da música, ao executar uma pose ops, esqueci de tirar a meia arrastão e ficar só
com a cor da pele que estava por baixo. Mas como ainda estou de meia se me
lembro de tirar a calcinha?
Bom, na prática foi assim: pedimos para duas meninas do Balé ajudar-nos
a trocar de roupa. Eu combinei que para não nos atrapalhamos, eu tiraria a
roupa e ela me vestiria. Então tirei o corpete e a saia, os sapatos, a calcinha
de dança, a flor do cabelo e a arrastão eu esqueci de descê-la. Logo, ela só me vestiu o outro vestido e me
ajudou a calçar os sapatos. No escuro ela não viu que o pano preto era a minha
peça íntima.
Rapidamente, tudo isso me veio à mente no meio da pose e ao virar
de costas para o palco, balbuciei um “ai jesus estou sem calcinha”.
No Camarim vi que a Érika estava bem mais calma que eu. E de calcinha.
Dali a alguns dias, fomos convidados a nos apresentar em Araxá, MG.
Coreografia remontada, somente eu e Ivanilson dançaríamos o tango
sob novos passos recriados e ensaiados em pouco tempo. Assim que chegamos no
local, enquanto todos repassavam, Ivanilson organizava a apresentação, as
sequências das músicas e muitas outras coisas. L-o-g-o não deu tempo de relembramos pela última vez.
Pensa num nervosismo? Agora dobra.
No palco, assim que Ivan me tomou pelas mãos, me deu um vanish: branco
total. Instantaneamente, minha deusa interior falou baixinho: fia, deixa ele te
conduzir, porque até o lenço para você dar um desmaio passou batido. Respirei,
olhei bem nos olhos dele e deixei me girar, me jogar, me juntar, me levantar e
por fim abandoná-lo no palco, tal como a coreografia mandava.
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Orgulho |
Lamento, mas lamento profundamente por mais uma vez não conseguir
a filmagem. Queria muito saber se nela, eu veria toda a emoção que senti e
refleti no meu corpo, nos passos ensaiados, nos improvisados e no orgulho de
terem confiado no meu esforço e na minha dedicação.
Só tenho a agradecer à oportunidade e a parceria de Ivanilson Barbosa Assim, Érika Assunta Roncolato e Renato Gabriel da Silva: MUITO OBRIGADA!
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Dançarinos |
Tango: Ana Carolina - 10 minutos
Bolero: Apresentação da Érika Roncolato e Renato Gabriel
MERDA PRÁ VOCÊS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
*merda é uma expressão no meio artístico para desejar uns aos outros, uma linda apresentação *
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Agradeço de coração a você que me lê e que expressa em palavras sua demonstração de afeto e carinho. É um prazer receber a sua visita. Muah!